Resenha: Livro que inspirou filme com Harry Styles, "My policeman" tem texto lento, porém envolvente
Daqui a poucos dias, uma adaptação do romance de Bethan Roberts chega ao Prime Video. "My policeman", ou em português, “Meu policial”, é o terceiro livro da escritora inglesa, lançado este ano no Brasil pela Melhoramentos. O destaque nas livrarias nacionais acompanhou a notícia de que o cantor Harry Styles daria vida a um dos personagens principais. Apesar da fama recente, trata-se de uma obra cujo lançamento original no Reino Unido data de dez anos atrás.
A história
“Eu não quero mais te matar”.
Essas são as primeiras palavras de uma história de amor e perda, dividida em cinco partes e narrada por mais de um ponto de vista. É em outubro de 1999 que Marion faz essa confissão. Ela está em uma casa afastada, na calmaria de uma cidade litorânea, junto a um velho conhecido, Patrick. Vítima de um derrame, Patrick não consegue falar, tampouco se movimentar, mas é capaz de ouvir. Sem muito revelar de cara o que aconteceu, Bethan dá início ao fio de tensão dessa narrativa, ao apresentar, pela primeira vez no momento presente, o triângulo amoroso composto por Marion, uma professora vinda de uma família simples, Tom, um policial, e Patrick, um curador de museu.
Enquanto escreve uma espécie de diário, Marion volta quase cinquenta anos no tempo, quando viu em Tom, o irmão de sua melhor amiga, tudo o que sempre quis em alguém. Justamente por isso, esperar por ele tornou-se algo recorrente — e natural — para ela; como quando ele vai para o Exército e ela aguarda angustiadamente a sua volta; ou quando ele lhe promete aulas de natação e ela conta os minutos para sentir o seu toque na água.
Marion detalha como sempre foi apaixonada por Tom e se orgulha de quando os encontros a sós ficaram mais frequentes e longos. Até a imagem do jovem curador de museu tomar as lembranças da velha Marion, e as saídas a dois passam a ser a três.
As pessoas começam a perceber e comentar. Menos Marion. De início, ela não enxerga — ou não quer enxergar — um envolvimento amoroso entre o então marido e seu amigo culto. Em determinados momentos, somos atravessados pelos relatos de como Patrick conheceu e se apaixonou por um policial a partir das intervenções de seus diários na trama. As perspectivas vão se entrelaçando e conectando as pontas desse triângulo amoroso até que algo terrível do passado é confessado.
Homofobia e machismo
Em seu romance, a autora toca em pontos sensíveis, como o impensável relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo na Inglaterra nos anos 1950 — considerado crime —, o machismo, as questões de classe, mas também consegue falar dos afetos e as frustrações que estes podem desencadear. É um bom drama, mas a impressão que tive é que mesmo uma estrutura de texto vai-e-vem, mesclando passado e presente e mais de um ponto de vista, não foram capazes de dar o ritmo que uma história do tipo demandaria, tornando-a, algumas vezes, morna. Felizmente, entrega o que propõe com uma reviravolta cruel.
Além de escritora, Roberts já trabalhou em documentários de televisão e lecionou o curso de Escrita Criativa na Chichester University e na Goldsmiths College. A título de curiosidade, a história de "Meu policial" é inspirada na relação triangular que se desenvolveu entre um romancista britânico do século XX, E. M. Forster, um policial e sua esposa. Nota 3/5.
Sobre o filme
O longa baseado no livro de mesmo nome estreia no Prime Video dia 4 de novembro com Harry Styles e Linus Roache dividindo o papel de Tom, Emma Corin e Gina McKee como Marion, e David Dawson e Rupert Everett como Patrick.
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