Resenha: "Amor & gelato" vai além do clichê adolescente ao falar sobre luto e autoconhecimento
Uma protagonista zero sociável, um interesse amoroso não tão interessante assim, Florença e gelato. Todos os ingredientes que poderiam alimentar mais um romance clichê tornam “Amor & gelato” (Intrínseca, 2017), de Jenna Evans Welch justamente o oposto. A capa de fundo rosa claro ilustrada com gelatos não desvenda nem a metade do que pode ser encontrado na trama. Antes de uma história de amor adolescente tendo a Itália como pano de fundo, “Amor & gelato” é uma história sobre luto, recomeços e a dificuldade de encontrar a si mesmo nos momentos em que a vida mais pega pesado. E, bem, quando se tem 16 anos, essa não é a coisa mais fácil.
Lina é uma adolescente que adora correr maratonas e passar horas no telefone com sua amiga Addie, mas está enfrentando algo extremamente complicado: sua mãe está com câncer no pâncreas. Lina não conhece o pai e a certeza de perder a mãe e ficar sozinha torna tudo ainda mais assustador.
O último pedido da mãe é que Lina vá morar em Florença com o pai, um completo desconhecido que não deu as caras nos últimos dezesseis anos. Mesmo relutante, ela deixa Seatle e vai passar as férias de verão na Itália após o falecimento da mãe, que a deixou com várias perguntas sem respostas. Não bastasse ter estado ao lado da morte nos últimos meses, o pai de Lina, Horward, administra um memorial da Segunda Guerra Mundial, onde também ficam os túmulos dos soldados americanos mortos na época. Ele mora lá e, agora, Lina também.
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O tom da história fica mais leve no momento em que a jovem, após receber um diário antigo de sua mãe quando morou em Florença, começa a seguir os passos de sua progenitora e a visitar os lugares mais bonitos da região. Ela também conhece Lorenzo, um garoto "metade americano, metade italiano" que a leva para todos os lugares e a insere no grupinho de adolescentes italianos da escola: a patricinha a la Regina George; a garota rica boa praça, o engraçado do grupo, o italiano mais charmoso de todos... Nessas horas, a gente respira aliviado e agradece pelos momentos de distração junto com Lina, que, depois de tanto tempo se sentindo sozinha, começa a abrir seu coração para o primeiro amor.
Jenna, que passou parte da adolescência em Florença, leva o leitor para os lugares mais famosos da cidade e até para os mais escondidos, ressaltando, ao menor detalhe, a beleza de cada lugar. Ao mesmo tempo que sua personagem conhece a cidade, também passa a conhecer a história da mãe; o que ela estava fazendo, vivendo e sentindo em cada canto. Lina passeia pela cidade de dia e corre para o diário em seu quarto à noite na busca pela próxima aventura e por mais respostas sobre sua mãe, seu pai e o porquê nunca soube de nada. E aqui já adianto: o plot twist é digno!
Pode até ser que o final dessa história seja previsível, mas o percurso é bom. É um livro daqueles para ler despretensiosamente, se emocionar com a trama e ficar com muita vontade de provar o gelato de Stracciatella. Cinco merecidas estrelas! Tem até playlist para entrar no clima!
Sobre o filme:
Neste mês, uma adaptação da história chegou à Netflix, dirigido por Brendan Camp (“Benji”) e protagonizado por Susanna Skaggs. Para quem leu o livro, sinto informar que tudo está diferente. Acredito que foram retirados pontos importantes da história e colocados outros que não fizeram o menor sentido. Mas se você não é apegado à obra original e/ou só quer assistir a uma comédia romântica para distrair... cairá como uma luva.
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