Mana do mês: Marielle Franco
Em 14 de março de 2020 completa-se dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes. Por isso, não poderíamos escolher outra pessoa para estrear a nossa categoria “Mana do mês”, onde iremos apresentar e homenagear a vida de uma mulher incrível da história.
Além de política, Marielle foi e ainda é uma grande célula revolucionária nesse país e tem muito o que ensinar. Desde 2018, Marielle virou série de TV, música, projeto de lei, enredo de escola de samba. Porém, apesar de avanços na investigação, ainda não conseguimos saber: quem mandou matar Marielle?
Mas, antes do crime desumano que tirou sua vida e de Anderson de forma extremamente precoce, a carioca fez bastante diferença nos caminhos que trilhou. Por isso, separamos alguns passos de sua história que merecem ser lembrados na data de hoje.
Marielle antes da política
Marielle era “cria da Maré”, como gostava de se intitular. Moradora de uma das maiores favelas no Rio de Janeiro,começou a trabalhar com 11 anos em camelô, para ajudar a família. Também foi dançarina, quando adolescente, e a partir dos 18, trabalhou por dois anos como educadora infantil em uma creche.
Defensora da pauta LGBTQI+ enquanto vereadora, Marielle era bissexual e casou cedo com seu namorado da época, com quem permaneceu em um relacionamento por alguns anos. Ainda bem nova, com 19 anos, teve sua primeira e única filha, Luyara Santos.
Em 2000, descobriu uma vontade de militar pelos Direitos Humanos, após perder uma amiga por violência policial. Um pouco antes, Marielle foi a aluna da primeira turma do pré-vestibular comunitário para jovens da Maré. Em 2002, consegue passar para a Pontifícia Universidade Católica (PUC RJ), se formando em Ciências Sociais pelo Prouni.
Com interesse na vida acadêmica, também fez mestrado, dessa vez em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação analisava as atuações das UPPs no estado do Rio de Janeiro.
Em 2004, Marielle começa a namorar Mônica Benício - sua noiva, com quem permaneceu em um relacionamento por toda vida.
Caminhos na Câmara Municipal
Marielle participou da campanha estadual, de 2006, que levou Marcelo Freixo à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Com a vitória do deputado, Franco ingressou no mandato como assessora parlamentar, coordenando a Comissão de De Defesa dos Direitos Humanos.
No cargo, Marielle auxiliava a família de vítimas de homicídio ou policiais vitimados. A assessora prestava tanto apoio jurídico, quanto psicológico. Um dos casos que ajudou a solucionar foi sobre um policial civil assassinado por um colega de trabalho.
Marielle permaneceu nessa posição por 10 anos quando, finalmente, tentou uma candidatura própria. Em 2016, Franco foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, com mais de 46.500 votos.
Em seu primeiro pronunciamento na Câmara, em 15 de fevereiro de 2017, Marielle foi recebida por gritos de apoio e bandeiras do movimento LGBTQI+.
Logo no início de seu discurso, Marielle fala sobre as expectativas para o seu mandato:
“A gente tem lado, tem classe e tem identificação de gênero [...] É dessa forma, a partir das soluções coletivas, que a gente vai traçar esse mandato. É isso que coloca uma mulher negra, origem na favela da Maré, com debate das valorizações da identidade sendo a quinta mais votada. Isso é resposta, isso é autorização da sociedade”
A “autorização da sociedade” para uma mulher negra, periférica e bissexual ocupar espaços públicos e demonstrar diariamente resistência não durou. Marielle foi assassinada antes de completar seu mandato.
Entretanto, em seus anos de atuação, Marielle e sua equipe proporcionaram mudanças. Com o lema “eu sou porque nós somos”, o mandato construiu projetos coletivos e que dialogavam com aqueles que mais precisavam.
Projetos de Lei
Um projeto de lei aprovado de Marielle é o das Casas de Parto. Além de contribuir para a saúde da mãe e do bebê, elas geram menos custos para o Município e ainda amenizam as sobrecargas das maternidades de grande porte. A de Realengo, por exemplo, já assistiu cerca de 3000 partos, sem nenhuma morte materna e apenas com desfechos favoráveis à saúde da mulher. O projeto visa estimular a criação de mais casas de parto, principalmente nas zonas de menor IDH do município e foi aprovado em 2017.
Outro mais recente é o #AssédioNãoÉPassageiro. A cada 16 horas é registrado um caso de assédio às mulheres em algum transporte público no Rio de Janeiro e, pensando nisso, o projeto propõe campanhas educativas sobre assédio e violência sexual contra a mulher, divulgação nos transportes de telefones de órgãos responsáveis pelo atendimento de mulheres para incentivar a denúncia, formação permanente dos servidores sobre assédio e violência sexual e multa às empresas de ônibus que descumprirem a lei. Você pode conferir mais sobre esse projeto de lei aqui e ajudar a compartilhá-lo.
Marielle também propôs a criação do Espaço Coruja por meio do Projeto de Lei 0017/2017. Ele é uma proposta de Espaço Infantil Noturno no Rio, já que todos os dias, milhares de mães e pais que estudam ou trabalham à noite, não tem com quem deixar suas crianças pequenas. Na maioria dos casos são famílias pobres, que correm o risco de perder seus empregos, ou ter que largar seus estudos por não terem condições de contratar alguém. Esse é outro projeto que conta com o seu apoio para ser levado adiante.
Mais um projeto ligado à saúde da mulher, o “Pra fazer valer o aborto legal” visa garantir o direito a um atendimento humanizado e sem violência às mulheres que estão em situação de aborto legal. Afinal, o aborto é legalizado no Brasil em casos de anencefalia, estupro e risco de morte para a mulher. Por falta de conhecimento e um mal atendimento, muitas mulheres acabam morrendo em abortos clandestinos que poderiam ser evitados. Saiba mais do projeto aqui.
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'Mana do mês' é a personalidade feminina influente escolhida para ser homenageada pelo Telas. Todo mês uma mulher importante e relevante é selecionada para contarmos sua história e legado.
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