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Foto do escritorFilipe Pavão

Mana do Mês de outubro: Fernanda Montenegro | Parte 1

Em 16 de outubro de 1929 nascia Arlette Pinheiro Esteves da Silva, a nossa Fernanda Montenegro, a mulher que se converteria na primeira-dama do teatro brasileiro e a nossa Mana do Mês de outubro. Hoje, é considerada uma das atrizes brasileiras de maior prestígio dentro e fora do país, tendo indicação ao Oscar e uma vitória no Emmy Internacional.


Filha de uma dona de casa e de um mecânico imigrantes, a menina Arlette nasceu no bairro do Campinho, na zona norte do Rio de Janeiro, e teve duas irmãs. Estreou, ainda de forma amadora, aos oito anos de idade em uma peça religiosa na Igreja que frequentava com a sua família.


Aos 23 anos, ela se casou com Fernando Torres, com quem permaneceu por mais de 50 anos até o falecimento do ator em 2008. Juntos, o casal teve dois filhos, a também atriz Fernanda Torres e o diretor de cinema Cláudio Torres.


A sua estreia profissional aconteceu na década de 1950, influenciada pelo seu trabalho como locutora na Rádio MEC desde a década anterior. O nome Arlette, considerado simples para uma artista da época, saiu de cena e deu lugar a Fernanda, como é conhecida até hoje.


No entanto, não foi só isso que mudou. A própria arte da atuação passou por muitas transformações, seja no teatro ou nos meios audiovisuais. E um fato é certo: a história de dona Fernanda e da atuação brasileira se confundem.



No teatro, na TV e no cinema


São mais de 25 trabalhos no teatro, 50 projetos na televisão e cerca de 50 produções no cinema desde 1950 quando estreou na peça "Alegres Canções nas Montanhas", ao lado de Fernando Torres, quem viria a ser o seu marido dois anos depois.


Ela foi a primeira atriz a ser contratada pela extinta TV Tupi e participou de diversos teledramas policiais, até ser convidada pela TV Record para protagonizar a sua primeira novela, “A Muralha”, em 1954.


Fernanda Montenegro, nas décadas de 60 e 70, passou por diversas produções televisivas em diferentes canais. Além da própria TV Tupi e TV Record, passou pela Bandeirantes, TV Cultura e as extintas TV Rio e TV Excelsior.


O cinema e o teatro também estiveram presentes nessas duas décadas de vida de Dona Fernanda. Ela protagonizou, inclusive, a peça histórica “O Beijo no Asfalto” (1962), de Nelson Rodrigues.


Fernanda Montenegro com Fernando Torres e os filhos
Fernanda Montenegro com Fernando Torres e os filhos │ Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

Reconhecimento nacional e internacional


O reconhecimento nacional chegou na década de 1980 ao ser contratada pela TV Globo. Sua primeira novela na casa foi “Baila Comigo”, em 1981, porém o sucesso veio com “Guerra dos Sexos” (1983), novela escrita por Sílvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando e Guel Arraes, ao interpretar a protagonista Charlô.


A cena da guerra de comida com Paulo Autran, que interpretava o primo Otávio, entrou para lista de momentos clássicos da nossa TV. Por esse papel, ela recebeu o prêmio de Melhor Atriz pela Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA.


Nos anos seguintes, continuou interpretando personagens em novelas de sucesso no horário das 19h e 20h. Participou de produções como “Cambalacho” (1996), "Sassaricando" (1988), "Rainha da Sucata" (1990) e "Renascer" (1993).


Já o reconhecimento internacional veio na década de 1990. “Central do Brasil” (1998), assim como para o cinema nacional, foi um divisor de águas na carreira de Fernanda Montenegro. O filme de Walter Salles e a atriz, que interpretou Dora, foram reverenciados em festivais e premiações ao redor do mundo.


Fernanda Montenegro em "Central do Brasil", que rendeu indicação ao Oscar
Fernanda Montenegro em "Central do Brasil" │ Foto: Reprodução

Dona Fernanda se tornou a primeira artista brasileira a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz. O longa também foi indicado na categoria de Melhor Filme Extrangeiro, mas ambos não trouxeram a estatueta para o Brasil - uma das maiores injustiças do Oscar!


Por outro lado, foram premiados no Festival de Berlim, na Alemanha, no Festival de Havana, em Cuba, e diversos outros nos Estados Unidos e no Brasil, como o Los Angeles Film Critics Association Award e o Troféu APCA.


Produções seguintes como o filme “O Auto da Compadecida” (2000), no qual fez o papel aclamado de Nossa Senhora na adaptação da premiada peça de Ariano Suassuna, a minissérie “Hoje é Dia de Maria” (2005) e a novela “Belíssima” (2005) mantiveram Dona Fernanda entre as atrizes mais queridas do país.


Voltou a ter repercussão internacional em “Doce de Mãe” (2012), telefilme produzido pela Rede Globo como especial de fim de ano. A atuação como a carismática Dona Picucha lhe rendeu o Emmy Internacional de Melhor Atriz. Em 2014, a atração virou série de mesmo nome com 14 episódios, a qual ganhou a categoria de Melhor Comédia e Fernanda Montenegro foi indicada a Melhor Atriz mais uma vez.


Fernanda Montenegro em "Doce de Mãe" como Dona Picucha
Fernanda Montenegro em "Doce de Mãe" │ Foto: Reprodução / TV Globo

Sensatez e lucidez de Fernanda Montenegro


Aos quase 91 anos de idade, se mantém ativa e lúcida quanto aos desafios da sociedade. Ela se manifesta, sobretudo, contra a falta de investimento nas artes e o desmonte vivido pela cultura brasileira. “Ninguém ou sistema algum vai nos calar”, disse recentemente durante o lançamento da biografia “Prólogo, Ato, Epílogo: Memórias”.


O livro, aliás, foi lançado em 2019, pela Companhia das Letras, para celebrar as nove décadas de vida da artista. Foi escrito com a parceria da jornalista Marta Góes e traz memórias tanto da vida profissional como da vida pessoal de Fernanda, da trajetória no rádio, no teatro, na televisão e no cinema.


Dona Fernanda contribui ainda para romper estereótipos relacionados ao envelhecimento e, sobretudo, ao envelhecimento da mulher no entretenimento. Para a atriz Simone Mazzer, existe um filtro nos convites de autores e diretores quanto às atrizes mais velhas, com papéis menos complexos, e uma das poucas exceções no cenário brasileiro é a de Fernanda Montenegro.


Em “Amor e Sorte” (2020), série produzida durante a pandemia do novo coronavírus, a atriz mostrou que está disposta e apta a viver às transformações tecnológicas. O seu papel mais recente foi gravado inteiramente em casa, junto a sua filha Fernanda Torres e o neto Joaquim Torres, sendo aplaudido por público e crítica.


Fernanda Montenegro e Fernanda Torres em "Amor e Sorte" │ Foto: Divulgação / TV Globo
Fernanda Montenegro e Fernanda Torres em "Amor e Sorte" │ Foto: Divulgação / TV Globo

Dona Fernanda também contribui para se eliminar o estigma de que pessoas idosas possuem pensamentos antigos e são “ultrapassadas”. Ao interpretar uma mulher lésbica em pleno horário das 21h da TV Globo, na novela "Babilônia" (2015), defendeu a narrativa da liberdade de se poder amar quem quiser independente da idade junto a atriz Nathália Timberg.


"Ela é totalmente humanizada, e uma porta voz desses avanços humanos. Esse mundo de preconceitos, de portas fechadas, de agressões absolutamente grosseiras e desumanas, que fazem o personagem sofrer... A dificuldade desse papel é ser essa porta voz", disse ao GShow em 2015.

Por esses e muitos outros motivos, dona Fernanda Montenegro merece todas as honrarias do público brasileiro pela sua contribuição à cultura e à sociedade. Tentar esgotar e esmiuçar todos os detalhes de uma vida tão rica em detalhes é impossível. Por isso, acompanhe nossas redes e o nosso site porque esse mês é todo dedicado a ela.


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“Mana do mês” é a personalidade feminina influente escolhida para ser homenageada pelo Telas. Todo mês uma mulher importante e relevante é selecionada para contarmos sua história e legado.

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