Mana do Mês de dezembro: Clarice Lispector | Parte 2: Suas obras
Acho que não tem uma pessoa brasileira que não tenha ouvido falar de Clarice Lispector - ou pelo menos não deveria ter. A autora é a nossa homenageada no Mana do Mês de dezembro e já contamos um pouco da sua história por aqui. Hoje vamos falar sobre seu legado para a literatura brasileira, mostrando um pouco do seu estilo de escrita e cinco de suas principais obras que são leitura obrigatória. E sabe o melhor? Já separamos aqui todos eles com link direto para a Amazon para você garantir a sua cópia!
Modo Lispector de escrever
Eu sei que provavelmente você ficava tenso quando aparecia uma questão de interpretação de texto da Clarice na prova de português. É que a autora se destacou não só por ser um dos maiores nomes femininos da literatura brasileira, mas por seu estilo de escrita tão marcante. Pertencente ao movimento modernista, Lispector chamou atenção dos críticos e demais autores por trazer questões mais intimistas e focadas no indivíduo, com seus questionamentos e sua intimidade, o questionamento do ser e o peso existencial. Com uma narrativa densa com uma linha de pensamento não linear, ela se utilizava muito de metáforas para suas epifanias.
A hora da estrela (1977)
É o último romance publicado por Lispector e tem um quê autobiográfico. O romance conta a história de Macabéa, uma nordestina simples, sonhadora e ingênua que mora no Rio de Janeiro e perde o namorado para uma amiga próxima. Diagnosticada com tuberculose, a jovem busca conforto em uma cartomante - e o resto é história. Um dos pontos mais marcantes da história é o narrador Rodrigo S.M., que vai se descobrindo e se conhecendo ao contar a história (com ironia) de Macabéa. Outro ponto bem marcante também são as claras reflexões e angústias de Clarice antes de morrer. “Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.”
Água viva (1973)
O livro é, basicamente, um longo texto ficcional em forma de monólogo, no qual Clarice se mescla com a personagem principal. Como era de seu estilo usar muitas metáforas, pequenas coisas do cotidiano se transformam em grandes reflexões acerca do sentido da vida. É um relato íntimo que traz confidências em flashes com muita subjetividade e nos ajuda a entender um pouco das tantas angústias que tomavam conta da autora.
A paixão segundo G.H. (1964)
Aqui foi a primeira vez que Clarice usou a primeira pessoa em seus romances publicados. A história mostra uma mulher identificada pelas iniciais G.H., que resolve limpar e organizar o quarto da empregada recém-demitida. É quando ela encontra uma barata e, ao matá-la, entra em uma crise existencial. Misturando um pouco da trivialidade do dia a dia com as inquietações da personagem com as incertezas das reflexões a que chegou - tanto G.H., quanto Clarice.
Perto do coração selvagem (1943)
Romance de estreia de Lispector, foi quando ela inovou no estilo de narrativa explorando a temporalidade não linear e o fluxo da consciência de forma poética. Ele chegou a ser premiado como melhor romance de estreia pela Fundação Graça Aranha, em outubro de 1944. O romance conta a história de Joana, uma menina órfã que, rejeitada pela tia, passa a infância em um internato. Já adulta, se casa com Otávio, que mantém um caso extraconjugal. O diferencial é que é a introspecção de Joana frente aos acontecimentos que norteia a narrativa. Com os sentimentos selvagens que não podem ser amansados, Joana se vê solitária na busca por si mesma.
Clarice Lispector foi uma figura complexa, intensa e que marcou a literatura e a história brasileiras. Trouxe uma nova alternativa e fase à forma de escrita modernista e suas leituras nos fazem refletir sobre o sentido e a efemeridade da vida. É uma leitura obrigatória tanto para tentar entender a complexidade dessa figura e da literatura brasileira, como para se pensar sobre nosso papel no mundo.
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“Mana do mês” é a personalidade feminina influente escolhida para ser homenageada pelo Telas. Todo mês uma mulher importante e relevante é selecionada para contarmos sua história e legado.
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