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Foto do escritorLuísa Silveira

Jeffrey Dahmer: as mulheres na história do serial killer

"Jeffrey Dahmer: Um Canibal Americano" é a nova série da Netflix, que já chegou no Top 10 em quase 90 países. O sucesso da produção de Ryan Murphy, estrelada por Evan Peters, é inegável. E parte disso é porque o público, de forma geral, ama séries sobre serial killers e crimes reais. O título em questão retrata a história de Jeffrey Dahmer, condenado pelo assassinato de 17 rapazes, entre as décadas de 70 e 90.


Dahmer é diferente de alguns serial killers conhecidos como Ted Bundy e Dennis Rader, "apelidado" de BTK , tendo vítimas exclusivamente masculinas. No Google, por exemplo, é possível encontrar pesquisas como: "Jeffrey só matou homens?" e "Dahmer assassinou a avó?", de tão comum que é vermos mulheres nas listas de vítimas de psicopatas. Porém, provando que os crimes não acontecem em um vácuo sociocultural, Dahmer mirou em outra minoria social: homens não-brancos.


Dos 17 homens e meninos assassinados, a maioria não era branca, com latinos, asiáticos e, principalmente, negros, nos alvos. Uma das suspeitas dos investigadores, muito abordada na série, era que, pelo racismo da sociedade estadunidense, essas vítimas não atraiam tanta atenção da mídia e da própria polícia, sendo fácil para Jeffrey, um homem loiro e branco, passar despercebido.


Entretanto, apesar do foco nos homens do círculo de Dahmer das vítimas ao seu pai, presente na sua vida até o fim , muitas mulheres marcaram a trajetória do assassino. Confira mais sobre 5 delas!

Glenda Cleveland é interpretada por Niecy Nash na série (Créditos: Netflix / Reprodução)

Glenda Cleveland


Para mim, a pessoa mais importante da série é Glenda Cleveland, interpretada pela incrível Niecy Nash. Na vida real, ela foi vizinha de Jeffrey e ligou inúmeras vezes para a polícia para alertar sobre os barulhos suspeitos e o cheiro que vinha do apartamento do assassino. Porém, ela sempre foi ignorada, principalmente por ser uma mulher preta, vivendo em um bairro marginalizado.


A história mais impactante é quando Glenda encontra um menino drogado, sem roupa, no corredor e liga para polícia. Dois policiais conversam com Jeffrey, que chega do mercado mais tarde e explica que é o seu namorado bêbado, de 19 anos. Glenda não compra a história e insiste para que investiguem. Os policiais, homofóbicos e racistas com o menino asiático, ignoram e o devolvem para sua suposta casa. No fim, ele era Konerak Sinthasomphone, um rapaz do Laos de 14 anos, que se tornou uma das vítimas mais novas do canibal.


Inclusive, o irmão mais velho de Konerak quase foi morto por Dahmer e sua família foi responsável pela primeira acusação formal ao assassino, por abuso de menor, já que na época, ele tinha 13 anos. Resumindo: os policiais devolveram uma criança asiática para a casa de um homem branco de 30 poucos anos, que tinha condenação por pedofilia em seu histórico. A série chega a mostrar a ligação real de Glenda, após o acontecimento, querendo saber o que aconteceu (é uma das únicas vezes que a produção opta por usar materiais verídicos). Mais uma vez, ela é ignorada pelos policiais.


Cleveland evitou a mídia, em grande parte, após a descoberta dos assassinatos, sem deixar de lutar por justiça pelas vítimas incluindo um pedido para que o terreno, onde era o prédio que moravam, virasse um memorial (o que nunca aconteceu). A série não mostra, porém, Glenda não era vizinha de porta de Jeffrey e mesmo assim, ouvia os barulhos das suas ferramentas e chegou a retornar ligações para polícia, quando viu cartazes que anunciavam o desaparecimento de Konerak. Ela continuou com o seu trabalho formal até se aposentar e morreu, aos 56 anos, em 2010.


Comparação de Rita na vida real e na série (Créditos: Netflix / Reprodução)

Rita Isbell


Rita Isbell era irmã de Errol Lindsey, que foi vítima de Jeffrey, aos 19 anos, em 1991. A jovem ganha destaque já que a única cena em que aparece viralizou nas redes sociais, pela semelhança com as imagens reais. Rita foi um dos familiares que resolveram falar, durante o julgamento, contra o assassino. Ela, porém, é mais agressiva e chega a ir para cima de Jeffrey em um momento, dizendo que "isso era estar fora do controle". Como falamos, a cena é idêntica. O que poderia ser um ponto positivo de "Dahmer: Um Canibal Americano" foi criticado pela família, que em nenhum momento foi consultada sobre a cena.


Confira o que Rita disse, ao The Insider, sobre a produção: "A razão pela qual eu disse aquilo é porque, durante o julgamento, estavam mostrando ele como alguém que não conseguia se controlar. Mas você tinha que estar no controle para fazer as coisas que ele fez. Ele estava totalmente no controle [...] Quando eu vi a série, me incomodou, especialmente quando vi a mim mesma e a menina disse exatamente o que eu disse. Se não soubesse, acharia que era eu. Seu cabelo era igual, ela tinha as mesmas roupas. Foi como reviver tudo novamente. Trouxe todas as emoções que senti na época [...] Eu nunca fui contatada sobre a série. Acho que a Netflix deveria ter perguntado o que nós acharíamos. Não me falaram nada, só fizeram a série", concluiu, afirmando também que a produção não dividiu o lucro com as famílias.


Ela ainda diz que Errol era um jovem divertido, que sempre avisava para mãe onde estava e era bem próximo da família, assim, ninguém entendeu como ele se tornou próximo de Dahmer. Ele deixou uma filha, que não havia nascido na época do assassinato.


Joyce, mãe de Jeffrey, é interpretada por Penelope Ann Miller (Créditos: Netflix / Reprodução)

Joyce Flint


Um homem se tornou um serial killer que matava meninos e homens. Quem tentam culpar? A mãe dele, é claro. Joyce Dahmer que mais tarde abandonou o nome do ex-marido, voltando a ser Flint é também outra figura feminina relevante na hora de contarmos a história de Jeffrey. Na série, ela é interpretada por Penelope Ann Miller e é perceptível que a mulher sofre com transtornos mentais, sendo constantemente medicada, mesmo enquanto grávida. Na época provavelmente não havia grandes pesquisas sobre o impacto da medicação no feto, mas essa é logo a primeira hipótese levantada pelo pai ao saber a verdade terrível sobre o filho.


"Dahmer: Um Canibal Americano" não conta tanto da vida de Joyce após abandonar Jeffrey e seguir com o filho David. Vemos que ela trabalha com reabilitação de outras pessoas uma vez curada de suas próprias questões e é uma das vozes que deseja estudar o cérebro do filho, após sua morte. O pedido, porém, foi negado pelo juiz, já que Jeff exigiu em testamento que queimassem todo o seu cadáver.


De acordo com o jornal O Globo, Joyce já disse em entrevistas que o filho era aparentemente um menino comum e tentou, por um tempo, publicar livro contando o seu ponto de vista assim como fez o pai , mas não encontrou editoras interessadas. Ela morreu, vítima de câncer de mama, aos 64 anos, em 2000. Até o fim, trabalhou no centro de apoio a pessoas com HIV.


Na série, Shari Dahmer é interpretada por Molly Ringwald (Créditos: Netflix / Reprodução)

Shari Dahmer


A madrasta de Jeffrey Dahmer, que casou com o pai do assassino na década de 80, foi também uma figura importante na criação do protagonista. Na série, a mulher é interpretada por Molly Ringwald e nota alguns comportamentos estranhos no rapaz, sem nunca suspeitar, é claro, do que ele realmente fazia, escondido de todos da família.


Shari nunca deixou de adotar o sobrenome Dahmer "Não fizemos nada de errado", afirmou em entrevista a Larry King. Por alguns anos, ela foi bem aberta sobre sua relação com o enteado, dando entrevistas e participando de documentários sobre o caso. Ainda na mesma conversa com o jornalista, Shari afirmou: "Qualquer coisa que pudéssemos fazer para evitar outro Jeff seria uma bênção. Eles não nos deixam esquecer".


Mesmo que em menor grau, o pai de Jeffrey, Lionel, também foi culpado pelas atrocidades do filho e Shari sentiu isso na pele. Depois da morte do rapaz, eles se afastaram da mídia. Alguns veículos acreditam que ambos continuam vivos e casados, morando no estado de Ohio, nos Estados Unidos.


Michael Learned é Catherine Dahmer em produção sobre serial killer (Créditos: Reprodução / Netflix)

Catherine Jemima Hughes


Por fim, a vó de Jeffrey, Catherine, é outra peça chave na história. O serial killer morou com ela por alguns anos e foi lá que começou a assassinar intencionalmente as pessoas Jeffrey afirma que não pretendia matar as suas duas primeiras vítimas. Assim como a série mostra, a mulher, interpretada por Michael Learned, era extremamente católica e conservadora, porém tinha uma relação boa com Jeffrey. Não é claro se ela sabia do que acontecia, mas o assassino acha que a avó sempre teve suas suspeitas. Por outro lado, é muito possível que ela acreditasse que o grande pecado que o neto tanto escondida era o fato de ser gay.


Catherine realmente chegou a esbarrar com uma das possíveis vítimas, fazendo com que Dahmer desistisse de matá-lo algo que também aparece na produção da Netflix. Segundo relatos, o pai de Jeffrey o mandou sair da casa da avó, após várias reclamações sobre os cheiros dos corpos em decomposição (que o jovem insistia que eram de animais que ele analisava). A senhora morreu em 1992, um ano após o neto ter sido preso, aos 88 anos.


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