#FreeBritney: o que é o movimento e por que ele é necessário?
Por Jéssica Riquena, Luísa Silveira e Victoria Rohan
Britney Spears é um nome que marcou a infância e adolescência de muitas pessoas. Desde apresentadora da Disney, ainda criança, passando pela sua fase "... Baby One More Time" e chegando aos seus lançamentos mais recentes, é difícil achar alguém que não reconheça a voz da cantora de longe.
Mas nos últimos anos, Spears tem ganhado os holofotes por outros motivos para além da música ou de fofocas bobas de celebridade. A estrela é a peça central de todo o movimento #FreeBritney, que já existe há alguns anos, mas tomou grandes proporções em 2019. Hoje, cada vez mais se fala sobre a situação da artista, já que os fãs seguem implorando pela sua liberdade. Se você está perdida, calma, a gente te explica tudo nesse "Vamos Polemizar?".
O que é a #FreeBritney?
Você já deve ter visto no Twitter ou escutado alguém falar sobre o movimento #FreeBritney, né? Em julho deste ano, o movimento que tomou grandes proporções em 2019 vêm se intensificando e exigindo uma resposta sobre a situação de Britney Spears. A diva pop tem a sua carreira controlada desde sempre.
De maneira geral, seus empresários mandavam em absolutamente tudo em sua vida - a imagem que ela passaria, roupas escolhidas e até o timbre de sua voz, que foi alterado para intensificar a noção de menina santinha, que por anos foi seu carro-chefe.
Tudo fica ainda mais bizarro quando lembramos que Britney está sob custódia legal de terceiros há mais de 12 anos. Por grande parte desse período, seu guardião legal - que controlava todas suas decisões (e quando eu digo todas, são todas mesmo) - foi seu pai, Jamie Spears. O que teoricamente poderia ser positivo, não foi nada bom para vida da cantora.
Aos 38 anos de idade, a cantora viu grande parte da sua vida passar como uma mera espectadora. Decisões importantes sobre o seu dinheiro, sua empresa, carreira, filhos, relacionamento e até postagens no Instagram são tomadas por seu grupo de “cuidadores” e tutores legais.
Todo esse processo, que começou após um período bem conturbado na vida da cantora, incomodou os fãs e fez com o que a #FreeBritney se espalhasse pelas redes. Mas, para compreender a importância desse movimento, precisamos voltar um pouco no tempo.
Little Miss Britney
Tudo começou lá trás. Britney foi basicamente uma dessas pequenas misses, só que criada para ser uma estrela do pop. Fez aulas de canto, dança e participou do “Clube do Mickey” - e isso com apenas 13 anos. Mesmo com o programa tendo sido cancelado, ela não foi deixada de lado e logo conseguiu um contrato para se lançar como uma cantora pop.
E aí veio o BOOM. “...Baby One More Time” chegou com tudo em 1999 e “Oops!... I Did It Again” ainda mais em 2000. A garota de apenas 18 anos que aparecia nas histórias dos clipes era a imagem que queriam vender de Britney: uma jovem virgem indefesa, mas “not that innocent”. Toda sua vida pública era controlada: o que vestia, o que comia, o que fazia, quem namorava (oi Justin Timberlake rs), onde ia. Afinal, a imagem de boa garota precisava ser mantida, né?
Rebelde com causa
Em 2004 veio o primeiro ato de rebeldia, mas não agressivo. Britney fugiu para Las Vegas e se casou com seu amigo de infância Jason Alexander. O casamento durou 55 horas porque logo que a equipe da cantora descobriu, correram para conseguir a anulação. Inclusive, no pedido constou que a ela “faltava discernimento de suas ações” e que ela era “incapaz de concordar com casamento”. Mas as rebeldias não pararam por aí. Também em 2004 Britney gravou o single “Monalisa” de maneira independente e levou o CD gravado para uma rádio sem avisar a equipe. Ela chegou a falar que tinha planos de lançar um álbum “Original Doll”, mas nunca mais ouvimos falar disso.
O fatídico ano de 2007
Acho que qualquer pessoa, amante do mundo do pop ou não, têm as fotos de Britney de cabeça raspada atacando um carro no posto de gasolina na memória. Foi um ano difícil para ela: festas com Paris Hilton, abuso de álcool e drogas, idas e vindas de reabilitação, divórcio e luta pela guarda dos filhos… E tudo isso levou ao pedido de tutela em 2008.
O primeiro pedido de custódia
Em 4 de janeiro de 2008, Britney – que de fato não estava com a saúde mental 100% – foi internada à força em uma clínica psiquiátrica após um pedido dos pais. Veja bem, isso pode acontecer legalmente se a pessoa estiver doente e representar um dano a si mesma ou a terceiros. Esse evento foi um circo, tinha imprensa na porta da casa, na ambulância e até mesmo em helicópteros.
Em fevereiro do mesmo ano, seu pai, Jamie Spears, entrou com um pedido de custódia provisória (o “conservatorship”) alegando que ela estava incapacitada de tomar decisões por si mesma. E conseguiu. Mas ressaltamos: custódia provisória. Um ano depois esse pedido seria (ou deveria ser) revisto.
As primeiras denúncias contra o “Conservatorship”
Com a tutela recém adquirida após um período bem conturbado da carreira de Britney, os fãs comemoraram a decisão e esperavam que a cantora, finalmente, pudesse deixar esse momento para trás e retornar ao seus “anos de glória”. Entretanto, menos de um ano após Jamie Spears se tornar o tutor oficial, evidências de que Britney não estava feliz com essa decisão e, pior ainda, que estava sendo submetida a levar sua própria vida aprisionada começaram a surgir na internet.
Em diversas entrevistas concedidas ainda no ano de 2008 e início de 2009 e, inclusive, no documentário Britney: For the Record (2008), a artista sempre deixava em evidência a sua vontade de ter mais liberdade. Foi desta maneira que em meados de 2009, a #FreeBritney surgia, ainda bem tímida. Neste primeiro momento, a tutela em si ainda não era questionada e os fãs pediam que a artista tivesse apenas mais autonomia sobre sua carreira artística.
O que ainda não estava em evidência para o fandom de Spears nesta época, era o quão limitador essa tutela poderia ser. O “Conservatorship”, como é nomeado nos EUA, é um “status reservados para pessoas muito idosas e/ou doentes que sofrem demência ou estão incapacitadas, de alguma forma, de tomarem decisões por si mesmas”. Apenas essa pequena explicação serve como pretexto para garantir que esse processo fere (e muito) a vida da cantora.
Ou seja, desde 2008, Britney tem a sua vida pessoal e profissional controlada por pessoas que sequer faziam parte do seu círculo social, como é o caso do advogado Andrew Wallet – que deixou sua posição no início de 2019 – e de sua “cuidadora” Jodi Montgomery, que assumiu após o afastamento do pai da cantora em setembro do mesmo ano alegando problemas de saúde.
A grande contradição é que o tal pedido de afastamento foi feito depois de uma denúncia que Kevin Federline, pais dos filhos da cantora, contra Jamie alegando que ele havia agredido Sean Federline, filho mais velho de Britney. Bem complicado, né?
A popularização do movimento #FreeBritney
Depois de vários anos “esquecido” esse assunto voltou à tona em janeiro de 2019 quando a segunda residência de Britney em Las Vegas, Britney: Domination, foi cancelada e a cantora alegou que o motivo seria o estado de saúde do seu pai. Depois desse pronunciamento as redes sociais da artista, sempre cheias de selfies e vídeos, foram completamente abandonadas durante quatro meses. Retornando, apenas, com um vídeo aonde a cantora pedia para os fãs não acreditarem em tudo o que eles lessem na mídia.
Ironicamente, esse vídeo foi feito um mês após a internação, dita voluntária, de Britney em uma clínica de reabilitação para lidar com o desgaste emocional causado pelas questões familiares que ela estava passando. Toda essa situação tomou proporções imensas e até famosos como Miley Cyrus e Will.i.am aderiram ao movimento.
E, como tudo pode piorar sempre, a situação se intensificou quando, em abril de 2019, Britney foi vista deixando a clínica para passar a Páscoa com seu namorado, Sam Asghari, com a aparência bem abalada. Tudo isso, somado com evidências que foram encontradas pelos fãs da cantora – cartas, áudios e conversas vazadas – aumentou a proporção do movimento que, durante todo o ano de 2019, reuniu diversas pessoas para protestos em localidades espalhadas por toda Los Angeles.
Deu para perceber o quão necessário é o movimento #FreeBriney? Pois é. A cantora é uma representação perfeita do controle que os empresários podem ter sobre seus próprios artistas. E já temos diversos exemplos fatais de como isso pode destruir alguém. De Marilyn Monroe à Judy Garland, todas tiveram suas vidas submetidas à vontade e preferência alheias e encararam finais tristes, com mortes precoces.
Só conseguimos esperar que o mesmo não aconteça com Britney e que todos os seus esforços - financeiros e mentais - para acabar com esse pesadelo sejam recompensados. Dia 22 de agosto terá uma audiência para determinar a continuação, ou não, da tutela, que - como falamos antes - está atualmente nas mãos da agente Jodi Montgomery.
Falaremos mais sobre o resultado desse processo em breve, torcendo para que o desenrolar da história seja positivo e que Spears seja exemplo de superação e não mais um caso desastroso do mercado.
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