Entrevista: Gabi Lins lança "Ultrarromântico", primeiro EP de sua carreira
O cenário musical brasileiro está vivíssimo! O mês de julho foi generoso e, entre vários lançamentos super aguardados, um EP chamou a atenção e despertou a curiosidade dos amantes pela música. O “Ultrarromântica” é o primeiro trabalho da baiana Gabi Lins e já ganhou nossos corações. Estreante no mundo da música, a cantora mostrou a que veio lançando um EP super amarradinho e com uma diversidade de sons incrível!
Com quatro faixas, o projeto que chegou ao mundo no último dia 30 busca referências do ultrarromantismo para construir um universo cercado de inspirações do mundo moderno e da vida de uma mulher na atualidade. Entre altos e baixos, Gabi vai nos contando uma história que, segundo a mesma, foi feita de forma impensada. Em entrevista exclusiva ao Telas Por Elas, a cantora destaca que, além de tudo, a produção desse primeiro EP foi muito importante para lidar com as decepções e as dificuldades que a pandemia e o isolamento social trouxe para nossa vida.
“Eu compus as músicas em momentos difíceis da minha vida e de muita reflexão. Estava em uma época que eu precisava me expressar urgentemente e de início foi por isso que eu escrevia.”
E se você acha que ela parou por aí está muito enganado, todas as faixas do Ultrarromântica ganharam videoclipes e todo o processo de lançamento/produção foi documentado em uma série de 7 episódios. Com isso, a montagem em atos proposta pela cantora – LOUCURA, CARÊNCIA, DELÍRIO E VÍCIO – agrega todas as faces do projeto criando um conceito, além de sonoro, visual também! Nesse sentido, o álbum Lemonade, da cantora Beyoncé foi uma inspiração para Gabi.
A amarração das histórias, com criação de prólogos que antecedem os clipes, deixam evidente o cuidado e a quantidade de trabalho que Gabi teve durante esse processo. Como artista independente, muitas – ou quase todas – partes do projeto foram pensadas e desenvolvidas por ela. E, mesmo com todas as dificuldades e acúmulo de tarefas, ela explica que tem sido muito gratificante trabalhar em algo que ama com tanta liberdade.
“Não vou romantizar a arte independente, pois ela ainda é muito sofrida, principalmente no Brasil. [...] Mas além de difícil, trabalhar com algo que eu amo, como a dona do meu projeto, também me dá um senso de liberdade que nunca senti antes. Um senso de propósito em colocar a minha voz no mundo.”
Depois de toda essa apresentação, chegou a hora de vocês conhecerem um pouco mais dessa artista incrível pelas palavras dela mesmo! Confira a entrevista completa com a Gabi Lins abaixo:
O “Ultrarromântica” é o seu primeiro lançamento e ele já vem cheio de potência e variedade. Desde quando começou a desenvolver o projeto você já tinha a ideia de abraçar e trabalhar com diferentes sons em cada faixa?
O objetivo sempre foi esse. Eu sempre me entendi como uma cantora pop, mas sempre fui muito eclética e não queria me colocar em uma caixa logo no início da minha carreira! Quero conhecer o meu público aos poucos e junto a isso me entender também e acredito que só podemos fazer isso experimentando. Além disso, os ritmos variados foram de extrema importância para o enredo da história. As produções deram o tom de cada ato e ajudaram as pessoas a entrar no clima de cada assunto abordado.
E falando desse processo de desenvolvimento do EP, como foi esse pontapé inicial para começar a sua carreira como cantora?
O pontapé inicial para decidir ser uma cantora profissional definitivamente foi a pandemia. Nessa época em casa, repensei muito sobre o caminho que a minha vida estava indo e percebi o quanto estava insatisfeita com ele. Logo, estando muito comigo mesma, entendi que o que sempre gritou dentro de mim foi a arte e a música. A vida pareceu mais curta e mais frágil e decidi viver ela de uma forma que me deixe feliz.
Ouvindo o EP completo é notório que as faixas se completam e contam uma história bem única. Como foi o seu processo de composição para o EP? E quais as suas principais referências no desenvolvimento deste trabalho?
Na época que eu escrevi as músicas, não pensei nelas em ordem. Não foi de propósito. Só depois percebi e entendi a cronologia das músicas e como ela fazia sentido para o propósito do disco. Eu compus as músicas em momentos difíceis da minha vida e de muita reflexão. Estava em uma época que eu precisava me expressar urgentemente e de início foi por isso que eu escrevia. Depois que encarei como um possível trabalho. Foi muito natural esse processo de composição. Na verdade, pra mim, sempre foi. Logo que entendi que publicaria as músicas profissionalmente, estudei muito as minhas referências que englobam diversas coisas como arte, literatura, dança e claro, música!
A principal referência estética e de enredo foi o movimento literário do ultrarromantismo, que é o que dá o nome ao disco. De construção da história, foi o livro "Mulheres que correm com os lobos". Nos clipes tem muito do projeto visual da Beyoncé, o "Lemonade", e o projeto da Rosalía, "El Mal Querer". Na sonoridade tenho como referência inúmeros músicos que vão de Dua Lipa até J Balvin.
Além de toda a qualidade nas letras e nas melodias das canções, o “Ultrarromântica” tem um grande apelo visual – seja nos clipes divulgados e em todo o processo de lançamento. Como foi unir esses dois lados do EP e criar um conceito visual que conversasse com as músicas?
Sempre fui uma pessoa muito visual em tudo o que eu fazia. Eu acho que facilita muito o apelo visual para a pessoa entrar na história contada. Além disso, sempre fui muito ligada à arte como um todo. A partir da finalização da composição, na minha cabeça ela já tem uma cor, uma forma, um mundo visual só dela. Tudo o que eu fiz foi tentar explorar isso que eu tenho desde sempre. Sou muito ligada em projetos visuais como também em moda e me vejo muito feliz e livre me expressando como eu quero em todos os âmbitos da arte.
Rosé, o último lançamento do projeto, traz um assunto muito importante sobre a supervalorização do consumo de álcool. Principalmente no momento que estamos vivendo – mergulhados no isolamento social e longe de tantas pessoas que amamos – qual a mensagem principal que você queria passar com a faixa?
Queria que o EP fosse finalizado de uma forma verdadeira. Por isso, não queria um final feliz para a história. Rosé foi uma música que colocou o ponto final realista que eu desejava. Com essa faixa, faço duas críticas: a primeira à romantização do álcool e a segunda à forma que a mulher fica desamparada após o final de um relacionamento abusivo.
Essa faixa é um alerta para esses dois pontos. No final do relacionamento, a mulher acaba ficando sem ninguém, sem amparo, sem autoestima e normalmente sem saber quem ela é. Se ela não tiver um sistema de apoio muito grande ao lado dela, ela pode cair no vício (seja ele em álcool, drogas ou qualquer outro!) pois ele é tratado na cultura da gente como se fosse uma saída para a dor e isso é infelizmente, muito normalizado.
Nas redes sociais você colocou toda a sua rotina durante o processo de produção e lançamento do EP – as partes boas e as partes nem tão boas assim, como as correrias e o acúmulo de tarefas. Como foi viver todo esse período como um artista independente assumindo todas as demandas possíveis (e impossíveis também)?
Tem sido o melhor desafio da minha vida. Não vou romantizar a arte independente, pois ela ainda é muito sofrida, principalmente no Brasil. É difícil navegar neste mercado onde o dinheiro é o fator dominante. Mas além de difícil, trabalhar com algo que eu amo, como a dona do meu projeto, também me dá um senso de liberdade que nunca senti antes. Um senso de propósito em colocar a minha voz no mundo. Exige muito foco, disciplina, determinação e principalmente você saber bem quem você é, porque infelizmente nesse início não existe muita gente que vá te dizer isso.
Por último, queremos saber quais são os próximos passos? Já tem algum projeto em andamento?
Não posso falar muito ainda sobre o que vem por aí! Mas posso pedir para continuarem me acompanhando! Não vou parar por aqui.
Então não perde tempo e corre para conhecer o primeiro EP da Gabi e se apaixonar pela sonoridade da cantora!
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