Crítica: Sunmi volta com "1/6" e finalmente lança mais um mini-álbum
Sunmi fez seu comeback nesta sexta-feira (6) com o mini-álbum 1/6 (lê-se: um sexto). A faixa-título You can’t sit with us ganhou um MV estilo anos 90 (tem até uma locadora!) misturado a apocalipse zumbi (pois é, combinação curiosa) e eu tenho muito a dizer sobre ele. Na verdade, eu quero escrever sobre a Sunmi aqui há muito tempo, mas a querida só decidiu lançar mais de uma música agora, depois de uns três anos de lançamento do seu último EP Warning (2018). E o que falar do primeiro trabalho “incrementado” da Sunmi em anos?
O 1/6 abre com a faixa-título You can’t sit with us. Ela é um synthpop da vibe dos anos 1980 que chama a atenção pelo fato que Sunmi seguiu a trend retrô do k-pop mais uma vez. Ela tinha feito isso antes com pporappippam (2020), aí abandonou em Tail (2020) e, para nossa surpresa, retomou com You can’t sit with us.
Na verdade, You can’t sit with us soa como uma mistura boa dessas duas faixas anteriores: você tem Sunmi seguindo a moda da vez (tal como fez com o city pop nostálgico de pporappippam) e se mantendo fiel à sua identidade musical (como seguiu com Tail), que ela costuma apelidar de “Sunmi pop”. O refrão é ótimo e fica fácil na cabeça, mas o rap em inglês ficou deslocado. Ele me lembrou a onda da SM de meter uns traps do nada numas músicas para o rapper do grupo ter alguma função. Talvez eu mude de ideia (como fiz com o rap da Jennie em Solo, que hoje canto na frente do espelho), mas por ora eu gostaria que a Sunmi não tentasse mais isso em suas músicas.
O MV segue o som retrô da música com uma estética tipo início dos anos 2000, com imagens do Windows 95 e locadora de VHS e tudo mais. Do nada vários zumbis aparecem, e vira uma cena cheia de sangue e metralhadoras, o que com certeza vai deixar o clipe censurado na Coreia por violência. Mas essa é a Sunmi: ela pega o comum e dá um toque diferente com uma aura mais “sombria” ou madura.
A letra é basicamente sobre odiar um cara, mas ainda assim não conseguir viver sem ele. Então não é surpresa que o ex que Sunmi rejeitou aparece do nada (como um zumbi, porque ela “matou” ele) e… Ela decide voltar com ele. Ah, e aí ele para de ser um zumbi. Que fofo, né?
Se você achou a premissa de You can’t sit with us estranha, se segura porque SUNNY é literalmente a única música descompromissada do álbum. Digo descompromissada no sentido de ser uma música leve e ensolarada de verão que fala sobre o mar e a praia, e de gostar de um cara de forma madura. Aliás, se eu fosse a agente da Sunmi, eu selecionaria essa b-side para promover nos programas coreanos ao lado da título — afinal, é verão no hemisfério norte agora, e SUNNY se encaixa muito bem nessa vibe.
1/6, que dá nome ao mini-álbum, é a música mais calma do disco. Se começamos com uma revoltinha amorosa em You can’t sit with us e seguimos com otimismo em SUNNY, é aqui que tudo começa a pesar (literal e figurativamente). O título da música vem da ideia de que os sentimentos (como ansiedade, aflição) pesam em nós e, por isso, Sunmi gostaria de ir para a Lua. Se lá a força da gravidade é só 1/6 da força da Terra, então na Lua as emoções seriam mais leves?
Sim, é uma baita viagem, mas Sunmi sempre foi assim. Ou ela segue ignorante no pop, toda entregue a fazer uma música para dançar (Gashina), ou ela mete o dedo na ferida e se diverte com trocadilhos e indiretas (Noir, LALALAY). 1/6 me deixou a mesma impressão que What The Flower: é uma Sunmi com uma música mais leve e sonhadora, lamentando num tom agradável para nossos ouvidos. E é quando você presta atenção na letra que você entende a seriedade por trás da música…
Call recupera o tom revoltado de You can’t sit with us quanto a homens: a música é basicamente sobre a Sunmi querer que um cara atenda o telefone para ela terminar com ele logo. O ponto alto da faixa para mim foram os versos em inglês (Used to call you my boy and now you call me mad girl), muito bons para acompanhar e cantar junto.
Narcissism mantém a reflexão e se afasta dos contos de fada ao narrar a ideia de você mudar para agradar o parceiro e, então, ter um choque ao descobrir que essa pessoa não é mais você. Os versos são mais calmos, e o instrumental desabrocha mesmo na hora do refrão, com um crescendo muito satisfatório. Uma coisa que me incomodou é que a voz da Sunmi terminou meio “afogada” no pós-refrão justamente porque o instrumental se tornou tão barulhento.
Borderline não é uma música nova, na verdade. Ela foi apresentada durante a turnê de Sunmi, e ano passado ganhou um vídeo especial no canal do YouTube da cantora. A letra, completamente em inglês, explora lados pouco conhecidos da Sunmi e aborda seu diagnóstico de borderline.
A faixa mais intimista fecha o 1/6 no ápice do desabafo, e ela soa um pouco deslocada por investir mais na guitarra e no silêncio, em comparação com o dance pop das músicas anteriores. Vale a pena assistir ao vídeo de Borderline; Sunmi é uma ótima dançarina e a coreografia é muito expressiva, e executada com muito sentimento.
Sentando à mesa com Sunmi
Quando paramos para analisar as temáticas no faixa-a-faixa, fica evidente que 1/6 é um disco pessimista. Sunmi está terminando com alguém, perdendo sua identidade, insatisfeita com um homem, sentindo ansiedade, lidando com um diagnóstico médico… Dá para notar que, apesar do título super pretensioso, Sunmi está realmente buscando ficar leve, como se estivesse na Lua com um 1/6 da gravidade da Terra.
Como todas as letras são de autoria da própria Sunmi, podemos encarar esse mini-álbum como uma forma dela desabafar e colocar em um só lugar tudo o que passa na sua mente. Eu apoio a ideia e curti a premissa, considerando que eu e os fãs dela estamos nos alimentando só com singles digitais há anos. Essa foi uma oportunidade de conhecer mais a Sunmi como cantora — porque ela como gente é bem ativa nas redes sociais, o que faltava mesmo era trabalho, material musical.
Prestando atenção nas letras assim, elas parecem pesadas? Sim, com certeza. Mas eu não falo coreano, e aposto que muito provavelmente você também não fala, então sonoramente o 1/6 é uma experiência bem interessante e que vale ser repetida. Não é um disco pop para ouvir na malhação, mas é um CD bom para quando você precisa de uma música ao fundo enquanto trabalha e busca inspiração para finalizar uma tarefa — e algumas faixas até valem para escutar na playlist de banho!
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