Crítica: The Album do BLACKPINK é o álbum mesmo?
Por Beatriz Cardoso e Jessica Riquena
Finalmente podemos escutar o primeiríssimo álbum de estúdio do BLACKPINK! O The Album foi lançado na última sexta feira (02) e já chegou quebrando recordes. Além de ser o disco de um girl group a vender mais de 1 milhão de cópias na pré-venda, segundo a YG Entertainment, as primeiras 12 horas após o lançamento foram suficientes para que alcançasse o 1º lugar no ranking de vendas do iTunes em mais de 50 países — e o número só foi aumentando ao longo do dia.
Se você não conhece o BLACKPINK deve estar se perguntando como elas conseguiram números tão expressivos com o primeiro lançamento! Então, se prepara para conhecer um pouco sobre a jornada do grupo e, claro, conferir o que achamos do The Album!
É impossível não comparar o BLACKPINK com o 2NE1. As similaridades dos grupos vão além de coincidências, claro — por exemplo, Forever Young e As If It’s Your Last seriam inicialmente faixas gravadas pelo 2NE1, o que só prova o concept parecido entre os girl groups. E o BLACKPINK carrega a pior sina do 2NE1, que é ser um grupo administrado pela YG. O que isso quer dizer? No ano passado, as garotas lançaram apenas um EP e só agora, com quatro anos de debut, que elas atingiram o incrível marco de 22 músicas. Uau, né?
O 2NE1 só lançou dois full álbuns (coreanos) em sete anos de carreira — seria esse o destino do BLACKPINK? A verdade é que não tem como prever isso, mas é sempre bom se preparar para o pior. O The Album jogou um balde de água fria nas blinks quando lançaram só oito faixas, sendo que dez músicas tinham sido prometidas pela empresa. Para bem ou para mal, a YG prometeu solos para todas as integrantes após a estreia do primeiro disco, então agora resta esperar.
Os otimistas podem se consolar por ora porque parece que as garotas saíram realmente do porão da YG. O fato é que em 2020 ficou impossível ignorar o nome BLACKPINK. O grupo, que foi o segundo mais ouvido do gênero no Spotify em 2019 e teve a música Kill This Love como a mais escutada do mesmo ano, chegou pronto para dominar as paradas de sucesso.
A primeira grande movimentação do grupo neste ano foi com a faixa Sour Candy, parceria com a Lady Gaga no álbum Chromatica que marcou o retorno (tão aguardado) da cantora ao pop. Lançada em maio, a música foi super bem recebida tanto pelos blinks como pelos Little Monsters e, com certeza, deu um gostinho do que vinha por aí.
Leia mais: Crítica: "Chromatica" marca retorno triunfal de Lady Gaga ao pop
Menos de um mês depois, o lançamento de How You Like That, primeiro single do The Album a ser divulgado depois do hiato de um ano do BLACKPINK, fez o grupo quebrar vários recordes. O Guinness World Records reconheceu o vídeo como:
Vídeo mais visto do YouTube nas primeiras 24h;
Videoclipe musical mais visto no YouTube nas primeiras 24h;
Videoclipe musical de grupo de K-pop mais visto no YouTube em 24h;
Maior número de views simultâneas numa estreia do YouTube;
Maior número de views simultâneas numa estreia de vídeo musical do YouTube.
Além disso, o sucesso estrondoso da faixa fez muitas pessoas conhecerem e começarem a ouvir mais músicas do grupo nesta época — eu, Jéssica, estou inclusa nessa estatística. Na mesma época, o grupo começou a produzir uma série de vídeos em formato “Reality Show” nomeada 24/365 with BLACKPINK, ou seja, conteúdo para consumir não faltou.
E, depois de todo esse caminho, finalmente chegamos no mês de outubro. Marcado pela estreia do The Album, primeiro álbum de estúdio do grupo, e pelo documentário BLACKPINK: Light Up The Sky que será lançado pela Netflix no próximo dia 14, este mês está sendo um verdadeiro presente para os blinks.
E agora que você já sabe tudo o que Jennie, Jisoo, Rosé e Lisa fizeram em 2020, chegou a hora de conferir, faixa a faixa, as nossas impressões sobre o The Album. Vamos lá?
How You Like That
O primeiro single do The Album foi uma decepção para mim nas primeiras “ouvidas”. A música é descrita como um “faixa hip-hop que incorpora os sons característicos do BLACKPINK”. Por sons característicos podemos presumir que é a receita de bolo:
“BLACKPINK in your area” > verso da Jennie > pré-refrão calmo com Jisoo ou Rosé > refrão que você só nota que é refrão depois que acaba (e é recheado de onomatopeias doidas) > rap da Lisa > pré-refrão calmo da Jisoo ou Rosé > refrão que você começa a engolir melhor na segunda vez > uma ponte com versos inglês para você, que não sabe coreano, conseguir cantar a música > um drop de batida bem louco como outro.
How You Like That me ganhou pelo fator chiclete, que me deixou murmurando sons aleatórios enquanto tentava imitar a voz da Jennie no refrão semanas depois de escutar a música pela primeira vez. E a mesma coisa tinha acontecido antes com Kill This Love, então essa faixa ultrapassada some no álbum diante de tantas músicas novas. Próxima.
Ice Cream
Ela esperava Ariana Grande, e vai receber... Selena Gomez. Não tem como comparar essa música com um feat que nunca existiu, mas devo defender a Selena agora porque foi absurdo o hate que ela recebeu quando a colaboração foi anunciada. Ice Cream deixou muita gente desapontada pela batida minimalista e o refrão “escondido” (sim, gente, a parte do “look so good, yeah, look so sweet” é o refrão), e eu mesma não gostei de primeira da faixa.
A verdade é que Ice Cream foi feita mirando nos fãs internacionais (daí o feat com uma americana e a letra em inglês), e me acertou em cheio porque o fator linguístico me ajudou bastante a cantar a música e viciar nela. Selena Gomez terminou brilhando mais do que as meninas tanto na música quanto no MV, e eu adorei isso porque também a adoro, mas tem quem fique insatisfeito já que… Bom, o álbum é do BLACKPINK, né?
O segundo single tem um MV colorido e adorável, e dá para ver bem nos vídeos de bastidores que as garotas curtiram parar de bancarem as badasses. Mas nem parece que a letra é pura putaria quando se lê a tradução, hein? Eu não esperava tal temática, mas acho que o clima equilibrou bem os pontos fortes da Selena e do BLACKPINK, e as tirou da zona de conforto com sucesso. Só deixo uma reclamação: cadê os versos da Jisoo? Pisquei os olhos e ela parou de cantar no clipe. Péssimo.
Pretty Savage
Pretty Savage é uma versão renovada de DDU-DU DDU-DU (essa é a única e última vez que vou escrever o nome dessa música direito), sendo uma das melhorias a maior atenção para Jisoo, que finalmente teve a chance de brilhar sob os holofotes com um verso de rap e declamando o clássico “BLACKPINK in your area”.
Teve quem desejasse que essa fosse a title para ganhar um MV, no lugar de Lovesick Girls, mas seria chover no molhado depois das parecidíssimas Kill This Love e How You Like That. Curti Pretty Savage? Sim. Muito, até mesmo a achei a melhor música do The Album. Pois é, é uma batida trap com rap e nada de novo para o repertório do BLACKPINK, mas o que posso fazer? Cheguei nelas por BOOMBAYAH e girl crush concept é o que elas fazem de melhor.
Bet You Wanna
Bem que o conteúdo da letra de um feat do BLACKPINK com a Cardi B poderia ser a perversão (nem um pouco) subliminar de Ice Cream — exceto pela parte do “monalisa kinda lisa” porque eu não espero que a Cardi faça uma rima preguiçosa assim, por favor. Há quem quisesse que Pretty Savage tivesse sido a colaboração da rapper com o grupo, já que o batidão e letra estilo “sou fodona” eram esperados de Cardi.
Em vez disso, recebemos uma música de classificação livre que me surpreendeu de uma forma positiva. Foi interessante ver uma Cardi B mais “comedida”, e Bet You Wanna pode terminar brilhando de uma forma diferente na sua discografia. O auge da música é, na verdade, o pré-refrão com Rosé e Jennie, com um contraste de tonalidade de vozes muito agradável. E dessa vez, apesar da letra ser completamente em inglês, Jisoo foi melhor aproveitada e não recebeu apenas dois versos para cantar. Estou satisfeita.
Lovesick Girls
Faixa-título do álbum, Lovesick Girls teve o videoclipe divulgado no mesmo momento em que o novo disco chegava às plataformas digitais. Entretanto, isso não foi motivo para atrapalhar o desempenho do MV. Além de ser o primeiro vídeo de um girl group de K-pop a atingir a marca de 10 milhões de visualizações em 53 minutos, o vídeo permaneceu em 1º lugar nos vídeos em alta do YouTube durante toda a sexta. Destaque para a coreografia no melhor estilo TikTok.
E, já que estamos falando de feitos inéditos, pela primeira vez desde que debutaram, o nome das integrantes apareceram nos créditos da música. Nessa, em especial, Jisoo e Jennie participaram do processo de composição, sendo que a main rapper também fez parte da produção. Será que esse é um dos motivos para a volta da “Jennie rapper”?
Tudo o que sei é que essa música me deixou realmente “doente de amor” pelo grupo. Tanto o clipe, como a letra e melodia, ganharam uma estética semelhante a faixas do início da caminhada no grupo, como As If It’s Your Last e Playing With Fire. Mas, calma, mesmo com essa semelhança é possível ver um amadurecimento das meninas, principalmente quando pensamos nas performances vocais. Elas, com certeza, alcançaram um nível de qualidade bem alto nesse quesito.
Crazy Over You
“I went crazy over” essa música! A sexta faixa do álbum chegou trazendo um som um pouco diferenciado para o BLACKPINK. Para começar, ainda nos primeiros segundos é possível ouvir uma cuíca! Sim, uma cuíca. Só consigo pensar que isso é um indicativo que o Brasil vai estar na Turnê Mundial pós-corona. Um blink brasileiro pode sonhar, né?
Mas, depois desse susto inicial veio outra descoberta: essa é a primeira música interpretada só pelas meninas que é toda em inglês, do início ao fim. Isso mesmo, não tem nenhuma linhazinha que seja em coreano. O mesmo já tinha acontecido com Ice Cream e Bet You Wanna, entretanto as duas são parcerias com cantoras estadunidenses. Acho que isso mostra que o grupo está preocupado em agradar e conquistar o público à nível mundial, né?
Love To Hate Me
Chegamos na dona e proprietária do álbum — e só minha opinião importa! Love To Hate Me é bem aquela música pra quando você está de saco cheio daquela sua paquera e quer só falar “Se estressando por nada, amor, relaxa”, assim como a Jennie fez.
Com um refrão que gruda na cabeça — “Ice cream chillin” versão 2.0 — a penúltima música do The Album tem uma composição bem badass que pode ser aplicada para além de relacionamentos amorosos. Afinal, “Você não vale meu amor se você apenas ama me odiar”. Love To Hate Me pode ser encarada como um recado para os haters, especialmente no verso da Jisoo "I'ma let you fade into the background/Baby, all my shows are gettin' too loud" (Vou deixar você desaparecer ao fundo/Querido, meus shows estão ficando muito barulhentos).
Na minha opinião, essa é uma das músicas do álbum que mais podemos apreciar a extensão vocal das quatro. Elas brincam com estilos, tons e notas ao longo da faixa e isso trouxe uma sonoridade bem agradável. Além disso, assim como em Crazy Over You, essa canção é toda em inglês. Pode vir dominação mundial!
You Never Know
E, finalmente e infelizmente, chegamos na última música do The Album. Para fechar o primeiro disco de estúdio, o BLACKPINK escolheu uma música que está — no MÍNIMO — um pouco deslocada. Mas olha, não é que a faixa não seja boa, muito pelo o contrário. A letra da música é beeeeem emocionante e, para mim, essa é A faixa que mais destaca o poder vocal de todas as integrantes.
Porém, depois de sete músicas mais animadas, eu estava esperando que a canção que ia encerrar o álbum seria arrebatadora, trazer batidas animadas, muita dança e, por isso, fiquei frustrada por não ser o que eu esperava. Mas, como é sempre bom enxergar o melhor das coisas, essa foi a PRIMEIRA música do grupo que a Jisoo teve mais linhas do que as outras meninas e, realmente, deu para curtir muito a voz dela e também ouvir o excelente desempenho das outras integrantes nesse ritmo. O destino de You Never Know não é tão esquecível quanto o de Stay — ela deve envelhecer tipo Hope Not, que é lembrada com muito carinho por, tipo, cinco blinks que juram que é a melhor música do álbum.
The Album é o álbum mesmo?
O The Album entregou uma variedade de sons ao BLACKPINK, indo desde a batida How You Like That (irmã de Kill This Love e cia.) até pop mais leves, com Ice Cream, e adicionando faixas mais “lentas” ao repertório do grupo com You Never Know. Mas a escolha de Lovesick Girls como single me deixou incomodada. Ela é uma música bem básica para o K-pop, e já a ouvimos algumas vezes ser cantada por outros girl groups.
A beleza de uma canção dessas na autoria do BLACKPINK é revisitar a era de As If It's Your Last, e vê-las livre da receita de bolo de DDDD. Respeito a escolha dela como single como uma forma de evitar uma repetição de concepts, mas, quando você ouve o álbum inteiro, você nota que o melhor do BLACKPINK é bancar as badasses e boss bitches (mesmo que elas sejam tão fofinhas na "vida real"). Isso também fez com que as B-sides parecessem muito mais superiores e interessantes do que os singles com MVs.
Outro ponto que chamou a atenção é a presença (bem forte) de faixas completamente em inglês. No total são quatro, ou seja, metade do álbum. Ok, nós sabemos a importância de levar as músicas à nível mundial e quebrar a barreira linguística — como sentimos em Ice Cream — mas confesso que senti falta do coreano nessas faixas e, principalmente, nos raps.
Por último, mas não menos importante, é incrível pensar que você pode escutar um dos álbuns mais esperados do ano em apenas 24 minutos. A YG, que inicialmente, tinha prometido dez músicas entregou só oito (sendo que duas já haviam sido lançadas anteriormente). Parece piada, né? Depois de um ano de hiato — e quatro anos do debut — tenho certeza que os blinks mais antigos esperavam um número maior de faixas dentro do álbum. Mas, se serve de consolo, pelo menos recebemos oito músicas muito bem produzidas e interpretadas. Agora é hora de esperar os próximos MVs e torcer para que o BLACKPINK não seja colocado na geladeira!
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