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Foto do escritorVictoria Rohan

Crítica: “Happier Than Ever” e as muitas texturas de Billie Eilish

Que Billie Eilish é um dos maiores nomes da nova geração da música ninguém pode discordar. A jovem de apenas 19 anos vem conquistando cada vez mais espaço entre os grandões da indústria e mostrando que ela e o irmão Finneas, de 24 anos, sabem se reinventar e manter o nível de produção. Happier Than Ever é seu segundo álbum de carreira e, provavelmente, um dos mais esperados do ano — até porque seu antecessor WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? deixou a barra bem alta.



Com 16 faixas que duram quase uma hora e poucos singles com a típica cara de que vai explodir nas rádios, Happier Than Ever apresenta uma Billie mais madura, segura de si, versátil e com novas feridas. Enquanto no primeiro álbum as composições se voltavam mais para dores e monstros pessoais, agora elas são mais acusadoras e ousadas. Vemos uma Billie ainda jovem com ânsia por experiências, mas que teve de enfrentar muito no meio em que se meteu e, consequentemente, viver e amadurecer em pouco tempo.



O clássico jeito ASMR de cantar baixo e sussurrado — que já é marca registrada de Eilish — ainda se faz muito presente, mas sua extensão vocal agora foi mais explorada. E eu, particularmente, gostei muito do resultado. Quanto às referências, podemos dizer que Billie já dava sinais da nova era desde o ano passado na sua apresentação do “One World: Together At Home” com a música Sunny, de Bobby Hebb. A verdade é que o álbum é tão diverso que tem referência de todo tipo e gosto — de Tom Jobim a Adele, de Frank Sinatra a Lana Del Rey, de Amy Winehouse a Björk.




Getting Older e I Didn’t Change My Number

O álbum começa lento no melhor estilo soul agridoce e a primeira faixa é realmente uma abertura ao projeto, como se dissesse: “oi, eu sou a Billie, passei por muita coisa com toda essa fama do nada e esse é meu álbum”. E aí damos de cara com uma transição seca para uma espécie de latido tentando se libertar (que acredito ser de seu cachorro, Shark) para I Didn’t Change My Number. Vale aqui um destaque na mixagem e colagem de sons — e uma leve exaltação ao Finneas — porque voltamos ao pop urbano experimental que os dois tanto exploraram no primeiro álbum.


Billie Bossa Nova e my future

Daí vamos para a cota latina. Brincadeira rs. Uma bossa nova norte-americana pop e eletrônica que fala da vida de turnês e nomes falsos em hotel ao mesmo tempo em que toca na questão de relacionamentos. Aqui Billie já começa a mostrar mais do seu lado romântico e sensual — que dominam parte do álbum. E logo engata na já conhecida my future, onde vemos uma jovem mais segura e solta vocal e musicalmente e apaixonada pelo próprio futuro. Ainda podemos ver a influência do ritmo brasileiro, mas agora misturado ao jazz.

Oxytocin

Uma das minhas favoritas do projeto que faz a ocitocina (conhecida como o hormônio do amor) ficar em alta ao ouvir rs — já digo também que é a primeira de algumas sex songs do álbum. É também uma das que mais remete à bad guy e xanny, tanto pela melodia e pelos recursos sonoros que emulam sensações ao ouvir, quanto pela letra mais ousada.


GOLDWING

Coral de igreja pique Fleabag? Temos! Com versos compostos por Gustav Holst no Rigue Veda ou Livro dos Hinos do Hinduísmo, a música começa como um coral de igreja. Mas logo muda para as batidas e colagens eletrônicas. Billie contou que a letra é uma metáfora para uma mulher que é “jovem, não-explorada, não-traumatizada” e a vontade de protegê-la. Pessoalmente, não me tocou muito e achei um pouco esquecível se não fosse o coral destoante no começo.


Lost Cause

Outra faixa que já conhecíamos, Lost Cause só reforça a acidez sensual de Billie nessa nova era. Com clipe à la 7/11 de Beyoncé e 22 da Taylor, a letra exala aquele sentimento de finalmente superar o ex problemático. Na época de lançamento foi considerado um flop para os padrões Billie Eilish. Eu, particularmente, gostei, e admito que segue como uma das minhas favoritas do álbum.



Halley’s Comet

Uma Adele jovem e apaixonada: é isso, basicamente. Uma música curta e romântica com um quê de 8 (do primeiro álbum), fala sobre um amor leve que a faz se doar para uma nova relação. Essa música quebra o ritmo do álbum e, para quem gosta da Billie raiz, é pulável, na verdade (sorry).


Not My Responsibility e OverHeated

Aí vem uma espécie de interlude, que é uma pausa entre dois atos. É a introdução que estava tocando na turnê que se iniciou em 2020 e nunca se completou (*gatilho*). Eu não vou perder muito meu tempo falando desse discurso, mas digamos que ele agrada as libfem e introduz a faixa OverHeated. Com batida marcada por uma certa influência de Radiohead anos 2000 (animada para padrões Billie Eilish de produção rs), a letra fala de toda a pressão da fama com papparazis, gravadoras, fãs, haters... Em termos de melodia, lembra o primeiro álbum.



Everybody Dies

“Todo mundo morre, surpresa, surpresa”. Aparentemente voltamos ao clássico modo depressivo. A faixa me lembra muito No time to die, que Billie e Finneas compuseram para o filme “007 - Sem tempo para morrer” (2021). Um mix de sussurro com grito, é uma música lenta que vai crescendo e poderia facilmente fazer parte da trilha sonora na parte triste de um filme de ação.


Your Power

Esse foi o primeiro single já deixando claro que fazia parte da nova era e foi uma ótima introdução para esse lado mais vulnerável de Billie que veríamos no restante do álbum. Apesar da letra não ser muito abrangente, acho que muita gente pode se identificar com a relação de abuso que ela descreve ali.



NDA e Therefore I Am

Para quem não sabe, o termo "NDA" se refere àquele famoso termo de confidencialidade que te fazem assinar para não falar nada. Quando a Billie lançou esse single foi meio flopado e admito que eu tinha achado a música um pouco confusa e com muita informação sonora. Porém, com o restante do álbum achei bem fechada, na verdade. E aí, quando você menos espera, uma transição direta (e perfeita) para Therefore I Am. A vibe das duas músicas é a mesma, basicamente, com a Billie cantando meio falado e uma letra meio sarcástica relacionada aos problemas da vida de celebridade. São também duas das minhas favoritas.



Happier Than Ever

Chegamos à faixa-título e, sinceramente, vale a espera porque é a melhor do álbum. Sabe aquele bom plot twist no clímax de um filme? É essa a experiência nos quase 5 minutos de duração. A música começa bem leve e calma com o velho ukulele de Billie numa vibe bem anos 60. Quando, do nada, guitarras distorcidas e exageradas e gritos no melhor estilo rock anos 2000. Olivia Rodrigo e Hayley Williams, corre aqui! Eu queria poder ver a reação de todo mundo ouvindo essa faixa pela primeira vez porque é assim o tanto que gostei. Mais uma vez, aqui vale um destaque especial para o trabalho de Finneas.



Male Fantasy

De volta ao violão de Your Power e à balada de Getting Older, que abre o projeto. Inicialmente, o álbum terminaria com a faixa anterior, mais rancorosa e raivosa. Mas, segundo a própria Billie, eles preferiram terminar com uma balada mais calma e agridoce porque “nada deveria terminar numa nota ruim e raivosa”. A letra foca naquele momento em que você percebe que sente algo que não queria sentir e, por isso, é um pouco difícil de engolir. Eu também diria que é bem pulável, na verdade.



Apesar das mais variadas referências, ritmos e texturas, o projeto é bem fechado e completo — características esperadas de segundos álbuns de carreira. O padrão esperado dos irmãos O’Connel era bem alto e, honestamente, eles não apenas não decepcionaram, como definitivamente conseguiram produzir algo genuinamente bom. Acho de verdade que estamos falando de um dos melhores lançamentos de 2021. E eles já podem ir se preparando para aumentar a coleção de Grammys.


















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