A importância do midsize em uma sociedade que valoriza a magreza
Arte em destaque por Pierre Rütz.
Você já se sentiu dividida na hora de "definir" seu corpo? Isso é mais comum do que você pensa. Com o padrão de magreza exagerada que, infelizmente, ainda se mostra forte pelo mundo, muitas mulheres logo sabem de cara: "não sou magra". Mas qual seria então a resposta? "Cheinha", "fortinha" e outros adjetivos que tentam suavizar a gordura não são o caminho ideal. Por outro lado, o movimento contra a gordofobia fez com que muitas percebessem que não são necessariamente gordas, apesar de serem sobrepeso na balança.
Hoje, depois de muito debate, sabemos que no âmbito social, gordos são aqueles que são efetivamente excluídos da sociedade por conta de seu corpo. Não cabem em cadeiras, não passam em catraca, não podem sair sem pesquisar se o local tem estrutura para recebê-lo. Isso é a gordofobia que não só despreza mas se esforça ao máximo para excluir gordos, com falsos discursos sobre saúde.
Mas se nada disso se aplica à sua realidade, então, voltamos a pergunta: o que você é?
O que é o movimento midsize?
Se você sabe que não é magra e às vezes tem dificuldade de encontrar um manequim que sirva bem no seu formato de corpo, com certeza já pensou que era gorda. Mas se você vive sua vida normalmente, se consegue encontrar - mesmo que não em todas as lojas - peças boas para você e nunca precisou de assentos preferenciais para obesos, você também não pode dizer que sofre gordofobia. Nesse sentido, mulheres no limbo entre esses dois corpos surgiram com o movimento midsize.
Na prática, são pessoas que vestem do 40 ao 48, que definitivamente têm dificuldade em ter a silhueta aceita pela sociedade da magreza, mas que nem de longe são excluídas no dia a dia pelo corpo. Essa exclusão, no caso, é simbólica (e todo mundo que já foi a "amiga gorda" sabe do que eu estou falando).
Muitos podem se perguntar: qual a necessidade de colocar um termo em tudo? Eu mesma me perguntei isso, até perceber o quão legal é ver pessoas com o corpo parecido com o meu - com barriga, coxa grossa, sem aquele estilo "modelo plus size que está mais no padrão do que sua conhecida magra". Além disso, o movimento é recheado de influencers e perfis que dão dicas práticas, ideais para aplicar na rotina - desde como ter uma autoestima melhor em uma sociedade que despreza pessoas acima do peso até onde comprar roupas que vão caber tranquilamente em você. E essa é a importância do movimento midsize.
A influencer Nanna Fernandes resumiu o movimento, durante entrevista com a revista Glamour: "Eu não sofro gordofobia, eu não sou desumanizada por causa do meu corpo. Eu sofro pressão estética, que é bem diferente. O midsize traz esse 'novo' local, pois também não sou uma mulher magra e não vivo como uma", afirma.
A vida com o corpo midsize
Como falei, um dos pontos mais legais de achar um grupo que você consegue se identificar, é poder ouvir experiências e pensar: "meu Deus, não é só comigo". Definitivamente não é. Na mesma entrevista, várias influencers e modelos midsizes - para além de Nanna - falaram sobre a experiência de se redescobrir nesse novo rótulo (que às vezes cai bem).
Um ponto em comum era a dificuldade de determinar seu manequim. Além de muitas passarem pelo efeito sanfona - emagrecer e engordar com frequência -, às vezes o padrão simplesmente não existia. Em uma loja era 40 e na outra 46. Isso vai para além do corte e modelo de cada marca, mas também se trata de uma sociedade que só concebia pessoas magras e, aos poucos, após muita resistência, começou a "aceitar" que pessoas gordam compram roupas também, abrindo portas para o manequim plus size. Se você não está lá, nem cá, boa sorte!
"Meu corpo não é nem gordo e nem magro, fui percebendo isso de formas diferentes, na hora de experimentar roupas que horas não serviam, horas eram muito grandes, dentro do movimento body positive em que eu não me achava", afirma a modelo Andy Almeida à Glamour.
Outro ponto levantado pela Instagrammer Nanna Fernandes é que as pessoas que estão no limbo, à procura de uma identificação, muitas vezes buscam se encaixar em um grupo a todo custo. Porém, como temos pensamentos e padrões extremamente lipofóbicos e gordofóbicos, engordar para se aproximar das plus sizes raramente é uma opção. Como resultado, a tendência para transtornos alimentares aumenta ainda mais - muitas vezes sem o objetivo principal de ficar magra, mas para que a pessoa se sinta parte de um grupo, que fale das mesmas coisas que você.
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