Crítica: A era do rock de Miley Cyrus em "Plastic Hearts"
Quando o assunto é Miley Cyrus a gente sabe que pode esperar sempre um punhado de versatilidade e inovação. Afinal, ao longo de sua carreira Miley nos mostrou que consegue entregar músicas para seus fãs independente do estilo musical. Com seus recém 28 anos de idade, a cantora e atriz presenteou os #Smilers com um disco novo que reafirma mais uma vez sua musicalidade versátil: o Plastic Hearts!
Miley já viveu na era do Pop, do disco, do country, era psicodélica e agora... a era do rock! Mas verdade seja dita! Mesmo com o álbum que contempla o estilo musical sendo lançado só em 2020, Miley nunca escondeu que curte um bom e velho rock and roll. Desde os tempos de Hannah Montana, a cantora sempre falou que ouve Pat Benatar, Nirvana e Joan Jett e chegou a fazer alguns covers destes artistas. Em Plastic Hearts, disco lançado nesta sexta-feira (27), ela dá vida à esta voz interior e se transforma na roqueira que sempre quis ser.
E pra quem achava que a cantora não iria entregar um bom rock se surpreendeu. Com 13 canções (15 na versão deluxe), a camaleoa Cyrus celebrou o estilo musical com maestria. Inclusive, parece estar até mais confortável neste disco, já que sua voz meio grave e meio rouca casou super bem com a sua nova era.
Mas não era "She Is Miley Cyrus"?
Antes de passearmos pelo disco novo, precisamos mencionar sobre o projeto "She Is Miley Cyrus". Pra quem acompanha a cantora sabe que o novo disco dela não seria o "Plastic Hearts", e sim um projeto que dividiria um disco chamado "She Is Miley Cyrus", em três EPs.
E como sabemos também, 2020 não foi um ano muito tranquilo, não é mesmo? No caso de Miley, além de um recente divórcio e a pandemia, a artista também precisou passar por uma cirurgia nas cordas vocais e um incêndio que destruiu toda a sua casa na Califórnia. Com isso, ela resolveu mudar o projeto para "Plastic Hearts", um disco de rock com uma pegada retrô e com forte influência das décadas de 1970 e 1980.
"Plastic Hearts"
Liberdade, medos, angústias, autoconhecimento e até posicionamento político. Tudo isso e mais um pouco é o que encontramos no novo álbum de Miley Cyrus. Ouça o álbum!
Começando com "WTF Do I Know", uma canção agressiva e eletrizante que abre o álbum e já nos mostra que tem coisa boa vindo por aí. Com solos de guitarra elétrica, a presença de pandeiros pontuais e com a força da voz grave de Miley, a canção se torna quase como um desabafo: "Estou errado por seguir em frente e nem sequer sinto sua falta? Pensei que seria você até eu morrer mas eu deixei ir. O que diabos eu sei? Estou sozinha porque eu não pude ser a heroína de alguém. Você queria um pedido de desculpas? Não vindo de mim eu tive que deixar você em seu próprio sofrimento. Então me diga, amor, estou errada por seguir em frente?"
A agressividade dá espaço para o compasso viciante de pop-rock de "Plastic Hearts". A canção também é abrilhantada por solos de guitarras mas dessa vez o baixo também ganha espaço. E pra quem tava com saudade de uma pegada mais lenta tipo "Wrecking Ball" também tem! Em "Angels Like You" vemos uma forte referência nos rocks românticos das décadas de 70 e 80. A letra fala fala sobre a relação entre pessoas opostas: "Eu sei que você é errado para mim. Vou desejar que a gente nunca tivesse se conhecido no dia que eu partir. Eu te coloquei de joelhos porque dizem que o sofrimento adora companhia, não é sua culpa eu estragar tudo. Não é sua culpa que eu não sou o que você precisa. Querido, anjos como você não podem voar aqui embaixo comigo."
O hit já conhecido "Prisoner" contempla o lado mais livre e carnal de Miley Cyrus ao lado da cantora britânica Dua Lipa. O refrão nos faz parecer que já escutamos a canção em algum outro lugar e na verdade sim. Afinal, foi usado um sample do hit "Physical", de Olivia Newton John, lançada em 1981.
Em "Gimme What I Want" vemos Miley empoderada e provocativa, dizendo que se não tiver satisfeita com os desejos amorosos, ela fará sozinha. Uma pegada de rock futurista com vocais robotizados deixam a canção ainda mais envolvente. Em seguida, exatamente na metade do álbum, temos mais uma parceria e dessa vez é com Billy Idol em "New Crawling", mais um hit dançante de Plastic Hearts. Miley mergulhou de cabeça no universo sonoro de Billy, com uso de sintetizadores bastante usados nas canções de rock dos anos 80.
Chegamos ao primeiro som divulgado desta nova era: "Midnight Sky". A canção já é bastante conhecida pelo público e recupera lembranças das ousadas canções de synth-pop, febre nos anos 70.
Em "High" percebemos uma leve influência do country com a força do violão na base da música. E não é pra menos, né? Miley é afilhada de Dolly Parton e filha de Billy Ray Cyrus, grandes astros da música country que lhe apresentaram à potência do estilo musical. Estilo esse que inclusive já fez parte de uma de suas eras. Quem aí lembra do álbum "Younger Now"?
"Hate Me" é a faixa que traz similaridades com a era mais longa de Miley, a do pop. A canção é marcada por uma montanha-russa de emoções, a letra tem um tom mais pesado, com uma voz mais rasgada, ela questiona inclusive o que fariam caso ela morresse: "Eu me pergunto o que aconteceria se eu morresse. Espero que todos os meus amigos fiquem bêbados e chapados. Seria muito difícil dizer adeus?"
Uma das grandes referências de Miley Cyrus também está presente em seu novo álbum: a lendária Joan Jett, ex-vocalista da banda The Runaways. O dueto "Bad Karma" tem como resultado duas vozes que casam perfeitamente mesmo não sendo uma música que contagie tanto. O disco se encerra com duas baladas: "Never Be Me" e "Golden G String".
Enquanto "Never Be Me" possuem diversas referências a Johnny Cash na letra e diz sobre aceitar que não é a pessoa mais estável do mundo, em "Golden G String" Miley volta a trazer referências quase escondidas ao country e fala sobre autoconhecimento. A artista encerra o álbum falando sobre como viveu reprimindo seus desejos e vontades e como tudo isso lhe ajudou a se conhecer.
Para a versão deluxe ainda temos "Endge of Midnight (Midnight Sky)" em remix por Stevie Ricks, "Heart Of Glass" na versão ao vivo do iHeart Festival e "Zombie" também ao vivo mas em NIVA Save Our Stages Festival.
Não há como negar! "Plastic Hearts" contempla a versatilidade e o talento de Miley Cyrus, a artista sabe se reinventar como ninguém e ainda entregar tudo de si em prol de uma boa música. Ouvindo o álbum, é como se esquecêssemos que Miley um dia não cantou rock, sua persona rockeira nos convence em todas as 15 faixas do álbum.
Surpreendente, impactante e único. "Plastic Hearts" de Miley Cyrus se destaca e marca sua carreira como um dos álbuns mais bem produzidos e elaborados. Mais uma vez, a cantora prova que é boa em absolutamente tudo que propuser a fazer, sendo no pop, country e ainda mais no rock!
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